Há épocas em que, pela vontade de Deus ou pelos desmandos dos
homens, cai sobre as nações o flagelo da mediocridade. A tradição, que busca no
passado as raízes do futuro, enfraquece. A dignidade nacional, por não
encontrar quem a defenda, emigra. E a Pátria, ferida e exausta, cansada de
enxovalhos e de calúnias, agoniza lentamente. É então que os homens
acomodatícios e medíocres alcançam o poder, convertendo-se o Estado num
mediocracia.
Nesta, inverte-se
a natural hierarquia de valores, falseiam-se nomes, desvirtuam-se conceitos. A
sinceridade passa a ser uma idiotice; a verdade, uma loucura; a justiça, um
suicídio; a admiração, uma imprudência; a paixão, uma ingenuidade; o idealismo,
uma cretinice; a virtude, uma estupidez. O país tem de ser visto através das
lentes de quem o governa e ai de quem tenha o arroubo do génio, a virtude do
santo, a coragem do herói!
É que os medíocres
– estes ou quaisquer outros - não têm
voz, mas eco; não falam, repetem; não pensam, plagiam; não vivem, vegetam; e nem sequer são sombra,
mas penumbra. Cépticos, porque são incapazes de acreditar; modestos, porque não
têm de que se vangloriar; invejosos, porque a sua vulgaridade não pode suscitar
a inveja dos demais. São incapazes de servir um ideal, de tomar uma iniciativa,
de sonhar com o futuro. Têm medo que os apontem a dedo, que profiram o seu
nome, que alguém refira a sua existência. E vivem como contrabandistas, fazendo
contrabando da própria vida.
Acéfalos, pensam
pela cabeça dos outros que seguem servilmente. Acomodatícios, mudam de opinião
tantas vezes quantas as necessárias. Desonestos, mentem pública e
descaradamente, vendendo se for preciso a própria honra ou fechando-a à chave,
para que ninguém saiba que têm aquilo que de facto não possuem. Às vezes,
esforçam-se por vestir a capa da inteligência ou por calçar os sapatos do bom
senso. Em vão. São medíocres da cabeça até aos pés e não há vestuário que lhes
disfarce as mazelas do corpo ou lhes distraia a pequenez do espírito.
Mas se um dia,
para desgraça das nações, conquistam o poder, logo assumem ares solenes e
grandiloquentes, com discursos longos, repletos de frases rebuscadas, num tom
de voz pretensamente autoritário e forte, com que intentam esconder o imenso
vazio que os consome. E dizem e desdizem, e fazem e desfazem, e mandam e
desmandam.
Combatem o
idealismo que não entendem, a verdade que não alcançam, a inteligência que não
possuem. Deitam pela borda fora o passado que os esmaga, o presente que os
repele, a História que os acusa. Fogem às responsabilidades que não assumem, às
promessas que não cumprem, ao futuro que não constroem. Vivem das palavras que
mastigam, das mentiras que consomem, das asneiras que vomitam. E julgam-se as
luminárias deste século, os heróis da nossa Pátria, os salvadores da
Humanidade.
E ainda por cima
querem que o futuro lhes reserve uma página, como se a História falasse dos
medíocres.